O teu experimentalismo tem te levado a áreas tão diversas como a programação e electrónica. Encontraste alguma convergência entre a música e a programação?

R1. Antes de mais obrigado pelo convite.

Primeiro os DAW's que nós usamos para fazer música são literalmente uma forma de programação simplificada (um bocado como o WordPress ou esse tipo de interfaces para programação sem código).

O advento da musica nos computadores abriu caminho para miúdos geeks se tornarem produtores de música, como é o meu caso. Se me perguntassem no 10o ano o que é que eu ia estudar na universidade a resposta seria programação.

Fora isso, da minha pouca experiência de programação, acho que há um grande paralelo na forma como tanto um programador como um produtor de música acabam por desenvolver formas de organizar/sistematizar grandes quantidades de informação. O que para um leigo pode parecer caos ou um bocado random olhando para um dos meus projectos, para mim (quando finalizados) há uma lógica simples quer o projecto tenha 5 ou 500 tracks diferentes.

Como te caracterizas? Um inventor? Um criador?

R2. Eu vejo-me como alguém que acredita que pode imaginar, agarrar e fazer. Acho que a "crença" nisso acaba mesmo por ser o que me define, mais do que qualquer outra capacidade.

Foste pai recentemente, a paternidade alterou em ti alguma etapa do processo criativo?

R3. Acho que não. Acho que simplesmente deu continuidade ao meu processo de evolução natural, de me tornar mais eficiente, pragmático. Fiquei mais sensível ao tempo gasto por ter menos tempo para gastar.

Existe algum algoritmo para o teu sucesso?*

R4. Na música eu acredito que o sucesso vem da honestidade do artista. Como em qualquer relação na vida. Eu acredito que quão mais honesto eu conseguir ser comigo próprio no processo de criação, mais as pessoas se vão ligar ao que eu faço.

Qual é para ti a importância da estética visual e branding na aproximação de um artista ao seu público? Quais as referências para ti nesta área?

R5. Acho muito importante, especificamente hoje em dia, por termos a possibilidade de chegar a um público tão grande que não fala a nossa língua. Eu acredito que a linguagem visual pode ser chave aí. Dito isto ainda me sinto um bebé nessa área. Referências para mim neste momento são o Burna Boy e a Rosalia, ambos com estéticas muito demarcadas tanto musical como visualmente. Vou tomando notas 😃

Tu começas a cantar as tuas músicas porque ninguém queria cantar nos teus beats e estas tornam-se rapidamente hinos nacionais, de certa forma tu tornas-te o Slow J após essa rejeição. Que conselho é que dás a pessoas que queiram definir o seu próprio caminho para o sucesso e como lidar com o não?

R6. Acho que quando queremos realmente uma coisa não podemos permitir que fatores externos ao nosso controlo nos impeçam de lá chegar. Essa é a mentalidade DIY que me trouxe até aqui. Continuo a ser totalmente a favor da colaboração, só não como desculpa para não atingir os meus objetivos.

No seguimento da pergunta anterior, qual é o papel da dúvida/incerteza?

R7. Honestamente não tenho a certeza (pun intended) mas olhando para alguns momentos no meu caminho vejo que muitas vezes veio-me estimular, obrigar-me a sair da minha zona de conforto e acabou por me levar muito mais longe do que onde eu tinha "planeado" ir.

É engraçado que muitas vezes os maiores avanços da minha carreira foram os que aconteceram menos por planeamento. Quase como se tivessem de acontecer. Acho que há um poder no deixar fluir e no aceitar o que é. Enfim 😃

Actualmente a criação é indissociável da existência de um suporte tecnológico, que ferramentas usas no teu processo criativo?

R8. MacBook pro, UAD Apollo Twin Solo, Yamaha's HS8, Ableton Live 10, Akg C414. Também gravo bué notas audio para o Evernote no meu telemóvel (S10e) que depois importo para o ableton para samplar ou usar como referência. O objectivo do meu setup é sempre permitir que a inspiração possa ser captada o mais rápido possível.

Numa altura em que o formato físico foi suplantado pelo digital será que ainda somos capazes de criar sem tecnologia?

Capazes somos, se queremos não sei. A tech na música às vezes também é um bocado uma faca de dois gumes, a falta de limitação também pode levar a uma forma de paralisia. Daí eu muitas vezes gravar as ideias essencias logo para o telemóvel e só me sentar no ableton quando já as tenho "seguras" pelo menos em referência. É muito fácil perder a inspiração à procura do som certo numa library com milhares de sons diferentes.

Vivemos num tempo de constante mudança e adaptaçao pessoal e profissional. O que farias que não música? Qual a seria a tua reinvenção?

É difícil dizer, acho que provavelmente programação. Por um lado sempre tive um grande amor por tecnologia e por outro acho que o dia a dia é relativamente parecido com o meu (tirando concertos, dos quais eu não sou assim tão fã hahahaha).

Estás a viver a vida que idealizaste?

Vou vivendo e idealizando hahahah. Mas sinto-me num ótimo momento sim.

Quem achas que deveríamos entrevistar a seguir a ti? Que pergunta é que lhe queres deixar?

Steve Jobs. Pergunta: Já conheceste o Bob Marley?

RESPOSTAS RÁPIDAS:

Objecto tecnológico essencial?

Portátil (Neste momento Macbook pro)

Rotina diária?

Deixar o bebé na creche às 10h00, pequeno almoço no estúdio, começo a trabalhar entre as 10h30 e as 11h00, almoço a um certo ponto, às 19h00 paro pa fazer exercício, jantar e depois dependendo do dia e da inspiração ou sigo para casa ou continuo até hora indeterminada em que já só me saiem ideias das quais me vou arrepender amanhã.

Work time? Manhã, tarde ou noite?

Neste momento os 3

Empresa que gostarias de ter criado?

Headspace

App que gostarias de ter criado?

Headspace

Mêtodo ou caos?

Ambos

Developer ou designer?

Dev

iOS ou android?

Android

windows ou mac?

Mac

Jobs ou Wozniak?

Jobs

Ronaldo ou Messi?

Pá, não sei.

Melhor sitio para comer em Lisboa?

Pateo do guincho? (Já bué fora do meu expertise)

Um Filme?

Coach Carter

Uma Série?

O Mecanismo